O que são vínculos afetivos e como construí-los?

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Você sabe o que são vínculos afetivos? Muito se fala sobre isso, mas na prática, o que realmente significa e como podemos construí-los?

 

Podemos pensar nos vínculos afetivos como a ligação que temos com aqueles que nos são importantes. São frutos de uma interação prazerosa, de uma relação construída pautada pela emoção, carinho, afeto, amor e respeito.

 

Desde o nascimento uma criança demanda cuidado consciente, contato físico, acolhimento, amor. Quando os pais se propõem a cuidar de seus filhos ainda bebês, vivenciam diariamente interações amorosas e divertidas que constroem e fortalecem laços afetivos, ao passo que a criança cresce e os pais continuam cuidando de maneira consistente e afetiva, intensificam o relacionamento com seus filhos, construindo um vínculo saudável.

 

A afetividade é uma necessidade humana! Todos nós queremos e precisamos nos sentir amados. As crianças e adolescentes precisam se sentir amados, acolhidos e valorizados. Quando as crianças e adolescentes têm certeza desse sentimento, da ligação que tem com seus cuidadores, se desenvolvem de maneira mais saudável, estabelecem comportamentos considerados adequados e, principalmente, entendem melhor e seguem de maneira mais efetiva as regras estabelecidas por aqueles que estão ligados afetivamente a elas.

 

É necessário que não se confunda afetividade com permissividade! O modelo de relacionamento entre pais e filhos que se mostra mais equilibrado, como apontam Weber, brandenburg e Viezzer (2006) a partir da proposta de Maccoby e Martin (1983), é o modelo participativo, aquele em que os pais conseguem estabelecer controle quanto ao comportamento dos filhos, estabelecendo regras e exigindo o cumprimento das mesmas e ao mesmo tempo, mostram-se envolvidos, amorosos, acessíveis e abertos ao diálogo. Ou seja, são aqueles pais que buscam estabelecer limites e são exigentes, mas com alta carga de afeto.

 

A ausência dos vínculos

 

Para pensar nas consequências da ausência dos vínculos afetivos ou na existência deficitária dos mesmos, podemos considerar dois tipos de estilos parentais: o negligente e o autoritário. Enquanto no primeiro há a ausência de limites e também de afeto, no segundo, o cumprimento das regras é supervalorizado, em detrimento do afeto.

 

Weber, Brandenburg e Viezzer (2006) sinalizam que os efeitos mais negativos estão relacionados ao padrão negligente. Nesse caso, os filhos podem apresentar dificuldade em desenvolver autoconhecimento, em tomar decisões e resolver problemas, possuem baixo rendimento escolar, baixa autoestima. Podem ter um desenvolvimento atrasado, problemas afetivos e comportamentais.

Quanto aos filhos de pais com perfil autoritário, aparentemente, se saem bem por possuírem bom rendimento nos estudos, mas por conta do alto nível de exigência e a pressão de corresponder às expectativas dos pais podem experienciar sentimentos de ansiedade, isolamento social e depressão e ainda, desenvolver comportamentos agressivos, quando adultos é comum reproduzirem o mesmo estilo parental com seus filhos.

 

Mas a existência de relações afetuosas sem o estabelecimento de regras e limites também não é saudável. Segundo as mesmas autoras, os filhos de pais permissivos tendem a possuir um pior desempenho nos estudos, a envolver-se com problemas de comportamento, como agressividade, e são menos independentes.

 

É natural que um filho criado sem afeto passe a se comportar de maneiras diferentes para obter a atenção dos pais! Inicialmente ele pode buscar fazer isso da maneira como os pais consideram adequada, solicitando a presença dos mesmos, iniciando conversas, chamando para brincar. Mas diante de negativas, começa a variar o comportamento e apresentar conduta tida pelos cuidadores como inadequada, como fazer birra, gritar, chorar, agredir física e verbalmente, quebrar coisas, mentir, chantagear, entre outros.

 

Pelo que tenho observado na prática clínica, o grande problema aparece na forma como os pais irão conduzir a situação, provavelmente, por estarem cansados e possivelmente menos tolerantes e pacientes acabam não oferecendo escuta, não se mostram empáticos, não validam os sentimentos da criança, não estabelecem regras e muito menos buscam cumpri-las. Ora punem as tentativas da criança de se relacionar com a família e expressar a necessidade de estar com os pais, ora acabam premiando os comportamentos que eram considerados inadequados (oferecem doces, comida, presentes, dinheiro) para que o filho pare de fazer aquilo que os incomoda. Se esse segundo grupo de comportamentos (tido pelos pais como problemático) passa a trazer a atenção dos pais, mesmo que seja por meio de uma bronca em detrimento do padrão adequado, é natural que ele se torne mais frequente e fortalecido, pois mostra para a criança e o adolescente que é dessa maneira que conseguirá se relacionar com os pais.

 

A consequência da falta de vínculos afetivos

 

A criança ou adolescente pode apresentar sentimentos negativos como desamparo, tristeza, raiva, ansiedade, solidão. Além disso, vários estudos têm apontado o desenvolvimento de problemas psicológicos e psiquiátricos na juventude e vida adulta, relacionados à privação de afeto ou fragilidade de vínculos com os pais, como Transtorno de Personalidade Borderline, Transtorno de Ansiedade, problemas de ajustamento social, entre outros.

Segundo Alvarenga (2001), práticas parentais coercitivas (tais como punições físicas, privações e ameaças) estão relacionados ao surgimento e a evolução de problemas de comportamento em crianças e adolescentes como: o desenvolvimento de comportamentos agressivos, baixo controle de impulsos, desobediência, comportamento delinquente.

 

Entendendo sua criança

 

As formas que uma criança busca a atenção e afeto variam muito de uma para outra, pois dependem da história de cada uma, dos modelos de relacionamento e expressão de afetos que lhe foram apresentados e do repertório que foi sendo desenvolvido ao longo de suas vivências. Podem passar a demandar mais cuidados, apresentando comportamentos que já não tinham como voltar a fazer xixi na cama, pedir chupeta ou mamadeira, ficar arredias, agressivas, chorosas, adoecer. Os adolescentes podem apresentar comportamentos opositores, confrontação, rebeldia, infrações. Além disso, podem se afastar dos pais e buscar se ligar a pessoas que oportunizam uma interação mais afetiva, como amigos, professores, familiares.

 

Para trabalhar os vínculos afetivos, primeiro é necessário aos pais mostrar que amam seu filho incondicionalmente. O que quer dizer isso? Que o amam pelo simples fato dele existir, por ele ser seu filho, e por ter a responsabilidade de educá-lo.

 

Para isso, o filho deve ser visto separado do seu comportamento: não importa se ele vai mal na escola ou não é bom no futebol, se quebrou seu vaso favorito. Você pode não gostar do que ele fez, mas não vai deixar de amá-lo por isso e é assim que ele aprenderá a contar com você sempre. É necessário que essa ligação aconteça para que o relacionamento seja fortalecido.

 

Segundo, não basta sentir esse amor, você tem que comunicá-lo, diga o que sente por ele, como ele é especial para você, o quanto se importa com ele, das habilidades e características que percebe nele. Busque também vivenciar momentos agradáveis com seu filho, tomar sorvete num dia quente pode ser uma ótima oportunidade de conversarem sobre o que ele tem sentido e pensado.

 

Terceiro, estabeleça disciplina, de maneira positiva, ou seja, empática, amorosa e respeitosa, como forma de fortalecer a conexão entre vocês. Ensine seu filho a viver, busque desenvolver nele autocontrole, autodisciplina, autoestima e autoconfiança.

 

Para isso, aqui vão algumas dicas:

 

  • Defina regras que seu filho pode cumprir e as elabore de maneira clara e afirmativa: não diga “procure se comportar direito na casa da sua avó!” para uma criança de 5 anos. Descreva o que espera que ela faça. Ordens como: quando chegar na casa da sua avó, cumprimente ela e seu avô e ao subir no sofá tire os sapatos , mostram para a criança como ele deve agir e a deixam mais tranquila;
  • Seja consistente, você também tem que seguir os combinados que estabelece, se for difícil, não o faça! Dizer para um filho que ele nunca mais vai assistir televisão é bastante complicado e provavelmente não será cumprido;
  • Trate seu filho com dignidade. Seja sensível ao que ele está sentindo e procure tratá-lo da forma como gostaria que falassem com você.
  • Procure estabelecer uma comunicação positiva. Ouça, favoreça a expressão de sentimentos, valide o que seu filho está sentindo. Em vez de: Pare de Chorar!
  • Diga: Acho que você está chorando porque está bravo, quer me contar o que aconteceu?
  • Valorize seu filho. O elogie sempre que possível, mas busque descrever o que ele fez que te agradou, “você é ótimo” ou uma crítica “você é péssimo” não favorecem autoconhecimento e afetam a autoestima.
  • Por fim, não use punições físicas, elas provocam raiva e medo do agressor, além de culpa e vergonha, prefira estabelecer relações lógicas como após jogar no computador o desligue senão não poderá brincar com ele depois, dessa forma seu filho saberá a regra e a consequência antecipadamente e poderá fazer escolhas.

 

Referências Bibliográficas:

 

Weber, L.N.D., Viezzer, A.P., & Brandenburg, O. J. (2003). A relação entre o estilo parental e o otimismo da criança. PsicoUSF, 8 (1), p. 71-79.

Weber, L. (2009). Eduque com carinho. Juruá: Curitiba.

Maccoby, E. & Martin, J. (1983). Socialization in the context of the family: Parent-child interaction. Em E. M. Hetherington & P. H. Mussen (Org.), Handbook of child psychology, Vol. 4. Socialization, personality, and social development (4a ed., pp. 1-101). New York: Wiley.

 

Alvarenga, P..(2008) In: Sobre Comportamento e Cogniçâo: Expondo a variabilidade. – Org. Hôlio José Guilhardi. 1a ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, v.8

 

*texto publicado originalmente em 09/08/2017 em http://psicologapatriciamotta.blogspot.com/

 

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