Você que é pai está lidando com dificuldades nos estudos dos seus filhos, e talvez já tenha buscado inúmeras estratégias para lidar com os conflitos que surgem na hora de fazer a tarefa e esteja se perguntando: Como posso estabelecer comportamentos de estudar no meu filho?
Uma primeira reflexão necessária é pensar se os problemas estão no comportamento de estudar ou no de aprender?
Salvo situações em que há um comprometimento orgânico da capacidade intelectual ou a presença de transtornos de aprendizagem, de maneira geral, todos estão aptos a aprender sem maiores dificuldades.
Já o comportamento de estudar, é um comportamento complexo, multideterminado. Pode ser entendido, inclusive, como uma classe de outros comportamentos, tais como: organizar material, sentar-se e folhear um material acadêmico, fazer lição, ler um texto, responder perguntas, etc. relacionado, ainda, a alcançar o desempenho exigido pela instituição de ensino.
Além disso, estudar exige treino e técnica, como atividades como dançar e tocar violão, isso porque, não é um comportamento natural do desenvolvimento humano, como andar e falar.
É um comportamento que precisa ser aprendido, e para se tornar hábito, tem que ser praticado com afinco. Por isso, a necessidade de se estabelecer uma rotina de estudo, de preferência diária, pois a constância favorecerá a instalação desse comportamento.
E aqui os pais e/ou cuidadores são peças chave, pois são eles quem poderão auxiliar na organização das estratégias para a rotina de estudos e, principalmente, na monitoração do conteúdo produzido.
Também é importante que o estudante escolha algo que mais goste para fazer imediatamente após concluir as atividades de estudo, se não terminar a atividade de lazer permanece suspensa até a conclusão das tarefas escolares combinadas.
Justamente por toda essa complexidade, instalar bons hábitos de estudos depende do estabelecimento de outros comportamentos, considerados pré-requisitos para o comportamento de estudar, tais como o comportamento de seguir regras.
O comportamento de seguir regras e instruções deve ser ensinado à criança nos primeiros anos de desenvolvimento. Se não aconteceu, essa deverá ser uma meta prioritária.
Outro pré-requisito: é o desenvolvimento da autonomia. Isso porque, uma criança que desde pequena, sempre necessitou de um adulto para realizar suas atividades pode apresentar dificuldades em aprender a estudar. A mãe pode ainda estar dando instruções para a criança em situações que ela já deveria ter desenvolvido a auto-regra. Como por exemplo: Vá tomar banho, tire o casaco. Se isto ocorre com uma alta frequência, a criança pode estar sob controle das instruções da mãe e só se comportar na presença dessas ordens.
Ao entrar na escola, a criança não contará com a presença física desse adulto e dos comandos que ele emitia e pode sentir-se perdida sem saber o que deve fazer em sala de aula, uma vez que não passou pelo processo de desenvolvimento de auto-regras. Poderá se comportar de forma a esperar que os outros digam o que fazer. Ficando parada enquanto os amigos vão para a fila, pode ser vista como uma criança aérea ou desatenta.
De uma maneira geral, entender que o estudante sabe estudar, também sinaliza a expectativa que o mesmo seja capaz de emitir comportamentos responsáveis.
Ser responsável, nesse contexto, seria fazer uma escolha sobre qual comportamento deve emitir numa dada situação, ser capaz de prever as consequências de cada comportamento de escolha, efetuar a escolha que produz a consequência mais adequada e verbalizar que a consequência foi produzida pelo próprio comportamento. Considerando o melhor para o indivíduo e o grupo, Regra (2004).
Como dito anteriormente, estudar é um comportamento que precisa ser ensinado. Abaixo, conforme proposto por Corsini, 2013, estão listados alguns componentes que precisarão ser trabalhados com o estudante, os pais deverão acompanhar esse processo de perto inicialmente e ir se distanciando conforme o filho estiver mais autônomo:
1- ORGANIZAR O MATERIAL PARA A AULA
No dia ou manhã anterior, o estudante deve saber quais aulas terá e qual o material necessário e colocá-los na bolsa, livros maiores atrás, menores na frente. Uma pasta para colocar folhar soltas e evitar que elas amassem, ou, sejam esquecidas, e estojo, com lápis, caneta, borracha.
O PAPEL DA AULA
É importante que os pais expliquem para os filhos a importância de participar, com pontualidade, assiduidade e comprometimento das aulas, ela deve ser vista como o embasamento para o estudo, é como se você já tivesse os ingredientes e a aula ensinasse a receita e como fazer o bolo.
Devem estar atentos, também, se o filho se esforça, mas não acompanha, talvez seja necessário buscar ajuda profissional (Psicólogo, Neuropsicólogo, Psicopedagogo, fonoaudiólogo).
Seria interessante também que o estudante fosse incentivado à interagir ao longo da aula, fazendo perguntas, tirando dúvidas, tomando notas – o hábito do registro, facilita a compreensão do conteúdo que está sendo trabalhado. Ajuda na concentração e pode melhorar o desempenho nas avaliações.
2- O PLANO DE ESTUDO
A elaboração de um plano de estudo deve ser pessoal e realista. Se o estudante relata não ter tempo para estudar, a dificuldade pode estar relacionada a não saber priorizar um objetivo, falta de organização ou excesso de compromissos.
Os pais podem ajudar os filhos a organizarem seu tempo, incluindo estudos e outras atividades de maneira harmoniosa, equilibrando o esforço relacionado ao estudo de forma dosada e continua.
É importante reservar um tempo após o almoço para descanso, em torno de 30 minutos à 1 hora. Principalmente se a criança estudou pela manhã.
Além disso, deve ser respeitado o tempo destinado para as outras atividades extra-curriculares do seu filho, aquelas que já tem horário fixo. Reserve também horários de sono, alimentação, lazer e alguma atividade física, algo para manter a saúde física e emocional.
Agora marque os horários reservados para o estudo, se atente para que seja quando o estudante se sente mais disposto, não pode ser horário em que haja concorrentes, como o horário do programa favorito ou hora que se costuma ter sono.
Tempo de estudo: cerca de duas horas SEGUIDAS, com pequenos intervalos.
3- SISTEMATIZAÇÃO DO ESTUDO – DEFINIR CONTEÚDOS DE PRIORIDADE.
Selecione duas ou três matérias, procure alternar as áreas do conteúdo (exatas e humanas), para não se cansar tanto. Reserve 30 minutos para tarefas das matérias não selecionadas. Interrompa o estudo ao menos 30 minutos antes de se deitar para conseguir relaxar. Busque sempre favorecer a autonomia do seu filho, a supervisão poderá ser mais próxima e contínua para crianças menores e no início do estabelecimento do comportamento de estudar, com o tempo podem ser articuladas a comunicação, o distanciamento e o acesso progressivo à autonomia.
4- CUIDADOS COM O AMBIENTE – ONDE SEU FILHO VAI ESTUDAR?
Devem ser levadas em consideração fatores como: temperatura, ventilação, luminosidade e mobiliários adequados.
Procure estabelecer que seu filho estude sempre no mesmo local. Evite revistas ou games espalhados próximo ao local de estudo para não ocorrer distrações.
Favoreça que ele comece o estudo com tudo em mãos para evitar se levantar constantemente. Que esteja sentado correta e confortavelmente para evitar mal-estar, cansaço e sono.
É importante, também, que não haja interrupções para atender ao telefone, ouvir música chupar bala, etc. pois, isso poderá prejudicar a manutenção do foco atencional.
A atenção é a capacidade de selecionar e manter controle sobre a entrada de informações externas e internas necessárias em determinado momento. Nossa atenção é seletiva e relativa, ela seleciona o estímulo a ser percebido de acordo com nosso interesse em determinado momento.
5- COMO ESTUDAR?
Deve-se buscar um estudo de qualidade: embora tenha sido sugerido a previsão de um horário definido, esse tempo deve ser flexibilizado, substituído por blocos ou por atividades que deverão ser feitas. Para evitar que ao acabar o tempo determinado o estudante queira simplesmente se livrar da tarefa.
Uma sugestão é alternar as tarefas conforme grau de dificuldade do estudante: primeiro a de maior facilidade (aquecimento intelectual), depois a mais difícil , com maior dificuldades (funcionamento a todo vapor) e por fim uma atividade de dificuldade média. É importante orientar que o estudante vá anotando as dúvidas, para esclarecê-las depois, com o próprio professor ou de outra maneira.
Ao terminar cada bloco, ele deve produzir algo: escrever uma síntese sobre o que entendeu, resolver um exercício, fazer uma anotação. Isso ajuda a dar sentido ao que foi estudado.
Pausas: Terminado o primeiro bloco de matéria, de uma pausa, de 5-10 minutos, para ir ao banheiro, comer algo, se espreguiçar, alongar e retornar para o próximo bloco de estudo. Agora e a matéria mais difícil, ao conclui-la outro intervalo deverá ser feito. Assim, sucessivamente, até concluir o que se estabeleceu para estudar naquele momento.
Mas meu filho não quer estudar!
Quando é observado resistência por parte do filho de se engajar nas atividades de estudo propostas, os pais devem tentar responder a questões como:
Será que ele sabe o que é estudar? Vê sentido nessa atividade? Será que ele compreende o que está sendo pedido? Será que seu trabalho está sendo valorizado? Quais outros fatores podem estar influenciando?
Análise dos erros cometidos:
Também é muito importante que observem e analisem os erros cometidos, a fim de compreender quais dificuldades ainda permanecem: Houve compreensão do que foi solicitado? Soube comunicar suas principais ideias? Escreveu de forma clara? Esqueceu dados relevantes? Como estava se sentindo física e emocionalmente?
O que fazer se seu filho foi mal nas provas?
Caso o desempenho acadêmico não for o esperado é importante evitar o estabelecimento de castigos, pois, no castigo está evidenciada a raiva daquele que o estabelece, o punidor. Se ao contrário, forem propostos tratos, com descrição antecipada das consequências, essa figura do punidor desaparecerá porque as consequências foram descritas antes e foi o filho quem escolheu aquela consequência. Estabelecendo assim um contexto de responsabilidade. Estabelece-se, com maior clareza a relação Se… então.
Referências:
Corsini, C. Pais nota dez, alunos nota mil: Sugestões práticas para ajudar seu filho na escola. Casa do Psicologo: 2013.
Regra, J.A.G. (2004). Aprender a estudar. In M.M.C. Hübner & M. Marinotti (Orgs.), Análise do Comportamento para a Educação: contribuições recentes (pp. 225-242). Santo André: ESETec Editores Associados.
*texto publicado originalmente em 19/02/2018 em http://psicologapatriciamotta.blogspot.com/