Como pais e professores podem favorecer a aprendizagem de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

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Essas estratégias podem ser usadas como forma de otimizar o desenvolvimento emocional, social e acadêmico dos estudantes de maneira geral, em especial daqueles que apresentam dificuldades para sustentar a atenção.

A título de esclarecimento, segue a descrição de algumas funções cognitivas comprometidas no Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH):

O que são funções executivas?

Pessoas que apresentam TDAH podem apresentar prejuízo das funções executivas. Porém, é importante esclarecer que crianças e adolescentes sem esse diagnóstico, também podem apresentar essas dificuldades. As estratégias aqui propostas visam favorecer o sucesso do aprendiz, independente de diagnósticos associados!

As funções executivas podem ser definidas, de maneira resumida, como um conjunto de habilidades que favorecem a regulação do comportamento para atingir demandas complexas. É composta pelas habilidades de flexibilidade cognitiva, memória de trabalho, controle inibitório (capacidade de adiar recompensas).

São habilidades cognitivas que favorecem planejar, regular e organizar caminhos para solucionar problemas. Portanto, são habilidades necessárias para a aquisição da aprendizagem escolar.

Algumas dificuldades de inibição podem ser observadas, por exemplo, quando o estudante interrompe professores e/ou familiares, é impaciente, fornece respostas impulsivas, tem dificuldade para controlar as emoções, fica conversando no meio da aula.

Já o comprometimento da memória de trabalho pode ser observado quando não consegue seguir corretamente as instruções da tarefa, tem dificuldade para fazer cálculos ou solucionar problemas matemáticos mentalmente, ou ainda, quando em uma atividade escrita não consegue organizar as informações de maneira coerente (começo, meio e fim).

Por fim, a falta de flexibilidade cognitiva pode ser percebida quando: tem dificuldade em mudar a forma como se comporta ou faz qualquer atividade, mesmo frente a erros, não consegue mudar a estratégia de resolução de problemas. Outra dificuldade percebida é em relação a memória prospectiva, ou seja, é a memória do que ainda vai acontecer – compromissos agendados para o futuro. É comum acontecer esquecimentos. Assim, faz-se necessário o investimento em lembretes e em estratégias que façam com que o aluno esteja sob controle do que deve ser realizado, de maneira efetiva.

Estratégias favorecedoras de aprendizagem:

Apresento, abaixo, algumas sugestões de estratégias que poderão ser adotadas para favorecer o engajamento dos alunos, de maneira geral, nas atividades acadêmicas, além de melhorar a atenção e memória. Lembrando que os professores e pais, devem atuar como mediadores desse processo, contribuindo para o desenvolvimento do repertório de auto-observação e automonitoramento, e, consequentemente, autoestima e autoconfiança.

  • Registro da tarefa escolar: primeiramente, o professor deverá se certificar que conta com a atenção de todos os alunos, é importante que esclareça a função da tarefa como uma estratégia que favorece a consolidação do aprendizado, deverá então explicar o que deverá ser feito em casa e qual conteúdo/página do material utilizado poderá ser consultado, deverá ainda se assegurar que todos os alunos fizeram o registro do que foi pedido e esclarecer eventuais dúvidas. 
  • Ao dar alguma instrução, é interessante, se for possível, pedir para que o aluno repita a instrução ou compartilhe com algum amigo, antes de começar a tarefa, (tal estratégia poderá favorecer a organização das informações e uma melhor compreensão do que deve ser feito). 
  • Valorização da integração e produção grupal. Sempre que houver a possibilidade, explorar as atividades em grupo, favorecendo a interação e integração do grupo, convivência com diferenças, ampliação dos repertórios de tolerância, diálogo, resolução de conflitos, autoexposição, além da aprendizagem a partir e organização do raciocínio e resolução de problemas em grupo. 
  • Buscar valorizar o empenho ao executar as tarefas solicitadas, oferecendo feedback positivo (descrever a ação que ele desenvolveu e que tipo de sentimento foi gerado: Ex: Foi muito bacana a forma como você explicou para o seu colega o que deveria ser feito, tenho certeza que agora vocês vão conseguir fazer um bom trabalho!). Ou seja, descrever o que ele faz bem e/ou quando se empenha em uma atividade, mesmo que o resultado não tenha sido completamente como o esperado. 
  • Contribuir para que o ambiente de sala de aula (ou biblioteca) seja adequado para os estudos, estimular a organização do material, planejamento do que é necessário para a tarefa solicitada (tanto em termos de materiais como recursos intelectuais/emocionais). Dessa forma a escola está contribuindo para o desenvolvimento de comportamentos pró-estudos, além das funções executivas descritas acima. 
  • Desenvolver mecanismo que ajudem a se lembrar, compensando as dificuldades de atenção e memória prospectiva: quadro de planejamento da semana, lembretes na lousa. 
  •  Quando necessário apontar erros, fazê-lo de maneira cuidadosa, que não exponha ou denigra a imagem dos alunos: seja pontual, e aborde, de preferência, individualmente, dando pistas para que o próprio aluno perceba onde errou e possa fazer a correção. 
  • Use frases que descrevam o que cada aluno já conseguiu fazer e o que ainda precisa concluir. Assim, além de favorecer a motivação, contribuirá para a compreensão da tarefa e percepção dos erros cometidos e, consequentemente para o desenvolvimento de autopercepção e autoconfiança. 
  • Tanto a escola quanto os pais devem investir em interações que favoreçam que os alunos sintam-se ouvidos, valorizados e respeitados. 
  • Trate cada aluno (filho) com respeito, utilize tom de voz normal, olhe nos olhos ao solicitar um favor, explique, objetivamente, o que quer e dê oportunidade para que ele se mostre autônomo e independente. 
  • Favoreça a participação e relato: Exercite uma escuta ativa, mostre-se interessado em seu relato, faça perguntas, busque saber de mais detalhes. Procurar dar explicações adicionais quando surgirem dúvidas. 
  • Para favorecer o engajamento e conclusão das tarefas, pode, discretamente, oferecer sinais de incentivo, elogios, toque físico, contato visual, perguntar como está indo o processo. Favorecendo a concentração do estudante na tarefa que está sendo realizada. 

*texto publicado originalmente em 15/03/2018 em http://psicologapatriciamotta.blogspot.com/

 

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